09 Dezembro | Sala de Exposições da Biblioteca da FCT/UNL | 16h00
Abertura ao Público
10 de Dezembro a 22 de Janeiro | 09h00 - 20h00 | Segunda a Sexta
O meu interesse por livros, fanzines, edições de autor (num sentido alargado), revistas de artista ou um jornal como este reside no facto, sempre surpreendente e muitas vezes incomodo, de, pela sua vertente experimental, me fazer reiteradamente questionar modelos, práticas e modos de funcionamento do próprio objecto em si mas também do meio artístico. Os objectos da minha preferência são múltiplos, maioritariamente inclassificáveis e problemáticos recusando qualquer tipo de indexação, geralmente, produzidos com meios pouco sofisticados mas nem por isso menos fascinantes em termos conceptuais e materiais. Estes são, para mim, objectos democráticos sobretudo porque apesar de tiragens usualmente curtas, o preço destas obras é, geralmente, acessível a quem quiser comprar e têm um circuito de comercialização que não fica restrito ao meio galerístico e institucional. Há um grande número de feiras de edição de autor e livros de artista, bienais, livrarias especializadas, etc. Sendo à partida uma discussão falseada, há quem argumente que a internet é neste momento o meio democrático de transmissão de conhecimento e o mais barato, no entanto, sabemos pelo caso da China, que isso nem sempre é verdade... o meu argumento é que um livro não precisa de um invólucro tecnologicamente complexo para existir nem precisa de electricidade para funcionar!
Há um aspecto sobre o qual pouco se fala quando o assunto são edições desta natureza, tratam-se de “objectos” dos quais apenas tomamos posse e acedemos ao conteúdo quando manuseamos e folheamos; é o “uso” que os torna “nossos”. Essa relação entre o objecto artístico e o (corpo do) seu “leitor” é inevitavelmente imbuída de afecto. A minha ideia de colecção e o meu amor por edições de autor está ancorada numa experiência vivida, talvez por isso pouco me interesse por edições de luxo ou livros originais com um único exemplar. Tenho tido o privilégio de, nos últimos anos, ter encontrado pessoalmente muitos dos autores destes projectos editoriais múltiplos. Assim estas edições que vou coleccionando com um orçamento modesto, são muito mais do que um objecto material, proporcionam uma experiência estética, intelectual e afectiva que accionam diversas memórias.
Isabel Baraona lecciona na ESAD.CR desde 2003. É licenciada em Pintura pela La Cambre (Bruxelas) e Doutorada em Belas Artes pela Universidade Politécnica de Valência, Espanha. Em 2013, no âmbito de um pós-doutoramento, foi bolseira da Universidade Rennes 2 (França) onde desenvolveu uma investigação que deu origem ao projecto Tipo.pt, um arquivo online sobre livros de artista e edição de autor em Portugal; sendo ainda co-editora de Portuguese Small Press Yearbook uma edição anual sobre oassunto. Nesse mesmo ano fez uma residência na Columbia College em Chicago, ao abrigo de uma colaboração informal e intermitente com o Journal of Artists' Books desde 2011. Em 2001 iniciou o seu percurso profissional com uma exposição individual intitulada mythologies tendo participado em diversas exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro. É, desde 2011, uma das organizadoras de "o que um livro pode", encontros anuais à volta dos livros de artista e edição de autor.
www.isabelbaraona.com
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