“A consciência da memória” expõe parte da exploração contínua por parte da artista, que procura diferentes olhares e perspectivas sobre a memória.
Esta proposta busca examinar a realidade abstrata de um mundo paralelo de interpretações, um espaço psicológico mutante que brinca com a realidade e se envolve com a imaginação. Cria-se um jogo entre memória e esquecimento, entre o que fica e o que desaparece. Desta interação, formamo-nos, criamos uma rede de ligações que vai configurando o indivíduo que vive e revive. No entanto, dentro da sua limitação e quem sabe salvação, ligações também se perdem, conexões falham, momentos e instantes são esquecidos.
Tece-se códigos entre a memória e as suas falhas, que nos acompanha como um parasita, um outro ser vivo que comanda um corpo e o seu destino ao longo da sua jornada. Semelhante ao Homem, este organismo cresce, transforma-se e morre. Porém enriquece-se, ao contrário do corpo, por abrigar em si a capacidade de questionar a morte e a imortalidade pela possibilidade de poder existir sob uma vida secundária.
Aos olhos da artista o espectro de cores visíveis retrata essa especial e vasta neblina de pensamentos e momentos únicos e pessoais. Por consequente, emergem vínculos e relações, que dão cor e imagem às tentativas incessantes de uma possível compreensão.
Biografia:
Liliana Ferreira, nascida nas Caldas da Rainha em 1997, iniciou o seu ensino artístico na
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, finalizando em 2020 a licenciatura
em Pintura, com uma pequena especialização em Fotografia.
Logo depois, prossegue
os seus estudos na Escola Superior de Artes e Design, iniciando o Mestrado em Artes
Plásticas.
Rapidamente o seu percurso foi alterado pela vasta oportunidade de
experimentação ao longo destes anos, fixando-se de momento, maioritariamente, na
criação de instalações, escultura e pintura.
O seu trabalho desenvolve-se na exploração
da cor e do material, no entanto, destaca-se uma linha de pensamento sobre a
memória que a tem guiado ao longo do tempo e na qual nascem muitas das suas obras.
Após algum tempo sem expor, retorna com esta exposição individual de forma a
retomar a essa reflexão sobre a memória.
Explorar a memória - relação com a realidade, a imaginação e o esquecimento.
Uma grande mancha composta de pequenos objetos coloridos, espaços uns preenchidos e outros vazios criando padrões (ou não), na parede (ou caídos no chão)... assim lembro (memória) a primeira impressão da obra de Liliana Ferreira vista na sociedade de Belas Artes, Lisboa.
Havia uma provocação (retomada na presente exposição) associando cores e imagens (e espaços em branco a serem eventualmente preenchidos) criando uma paleta de experiências visuais: as cores evocando emoções e relações com os eventos em observação (ou momentos passados). É o processo normal da memória, lembrando e retendo informações presentes e passadas, bem como a capacidade de reconhecer e recuperar essas informações quando necessário.
As memórias são muitas vezes acompanhadas por cores e imagens (quem não já sonhou a cores e a 3D?) que podem surgir ao tentar recordar um evento ou experiência específica. Cada observador vai ter diferentes maneiras de perceber e interpretar as visualizações expostas, recorrendo a experiências passadas. Podemos brincar com as observações (e ausências delas) e adicionar ou alterar detalhes ao longo do tempo, pois há uma linha de grande fragilidade entre memória e imaginação. Esse jogo é bem explorado na presente exposição.
José Moura
Diretor Biblioteca
Nov 2023
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