(da esq. para a dir.): o carpinteiro João, dito o «Algarvio», o formador José de jesus Branco ou
«Faiunça», e os dois assistentes José Neves e «Renato». © Vítor Branco (data?) & A Le Gac, 2022.
Investigações recentes do Departamento de Conservação e Restauro da NOVA FCT evidenciaram a urgência de resgatar a memória dos Formadores, profissionais associados à produção do património escultórico.
A exposição evoca três dos mais importantes Formadores portugueses do século XX, sem os quais a Escultura Monumental de Arte Pública não teria existido, especialmente entre 1940 e 1980: José de Jesus Branco (1931-1982), casapiano e alcunhado de «Faiunça», o seu irmão Manuel de Jesus Branco (1925), que terá 98 anos este 25 de Setembro, e Venâncio Neves (1938-2021). Trata-se ainda de mostrar uma das principais técnicas que aplicavam para modelar e «dar forma» à Escultura.
Revelando o nome e a fisionomia desses colaboradores que trabalharam com os mais eminentes Escultores do seu tempo, pretende-se recordar as suas práticas altamente qualificadas, que requeriam destreza e sensibilidade artística, uma constante adaptação à maturação dos projectos, uma gestão drástica dos prazos e a resolução das dificuldades inerentes à execução de obras complexas, com formas intricadas e dimensões colossais.
Foi possível dar visibilidade a estes profissionais cuja autoria não consta nas obras, através do testemunho vivo de dois deles e da recolha de dados muito concretos quanto às suas vivências, a sua aprendizagem, as técnicas que dominavam e aos elementos de estatuária ou monumentos notáveis que se empenharam em concretizar. Acresce-se a estas informações, outras fontes fidedignas e complementares (textuais e visuais) que dão conta dos recursos humanos e materiais envolvidos.
Para mostrar o fabrico de um protótipo em gesso, para uma escultura final destinada a ser vazada em gesso, cimento ou bronze, a exposição apresenta as diferentes etapas da «formação» a partir de uma maquette em argila. Esta reconstituição, realizada em 2018 em colaboração com o Formador Manuel Branco, baseia-se no rosto em tamanho natural da Deusa Artemis; rosto famoso que servia de modelo na então Escola Nacional de Belas Artes onde os irmãos Branco também exerceram a função de técnicos-ajudantes.
Foi uma ocasião para demonstrar que as técnicas exigem procedimentos insuspeitos, uns ficando ocultos na obra acabada, outros sendo literalmente destruídos durante a execução e de que raramente se conservam os vestígios.
A reconstituição ajuda a evidenciar um saber-fazer, um vocabulário técnico associado a técnicas herdadas do Renascimento, quase sem alterações numa história de séculos, geralmente transmitidas oralmente no âmbito estritamente oficinal.
Estes processos, hoje obsoletos, foram suplantados nos anos 1980 pelas novas tecnologias de concepção
e impressão 3D e pela invenção de novos polímeros.
CV Agnès Le Gac (alg@fct.unl.pt)
Professora Auxiliar do Departamento de Conservação e Restauro da NOVA FCT e Membro Investigador do LIBPhys-UNL (Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física da Radiação), do Departamento de Física da NOVA FCT.
Formação em História da Arte e em Conservação e Restauro de Bens Culturais, vertentes Pintura e Escultura, em França e na Bélgica, entre 1979 e 1985. Pós-graduação em História da Arte Contemporânea (1987). Doutoramento em Conservação e Restauro de Bens Culturais, especialidade Teoria, História e Técnicas de Produção, na NOVA FCT (2009).
Tem trinta anos de experiência em docência, orientação de mestrandos e doutorandos, e investigação ligada à preservação de estratos pictóricos de diferentes origens e épocas (séculos XV-XXI) aplicados sobre suportes muito diversos (tela, madeira, terracota, gesso, cera, papier-mâché e pergaminho).
Coordenou e participou em projectos internacionais financiados pela Comunidade Europeia DGX, em projectos trienais nacionais financiados pela FCT.
Desde 2010, é team-lider de uma vintena de projectos nacionais independentes, em colaboração com museus da DGPC-Direcção Geral do Património Cultural, a EGEAC-Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, e outras instituições culturais.
Desenvolve parcerias com a Comunidade Casapiana para a preservação do seu Património.
É curadora de exposições destinadas ao grande público:
- «Recordar o Soldado Português». Comemorações do Centenário da Grande Guerra com a estátua do Soldado desconhecido de Maximiano Alves (1888-1954), Museu Militar de Lisboa, 8 nov. 2018 – 27 jan. 2019.
- «Por dentro da obra. A técnica da têmpera de ovo na obra de Vieira da Silva (1908-1992)», Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, Lisboa, 31 out. 2019 – 26 jan. 2020.
- «(Re)Descobrir Faiunça (1931-1982): Herança de um Casapiano e Formador para a Escultura Portuguesa», Centro Cultural Casapiano de Lisboa, 1 julho – 5 nov. 2022.
- «CAMINHOS. Medalhas e Moedas», obras dos Escultores-medalhistas José João Brito (1942), Vítor Santos (1946) e João Duarte (1952), Centro Cultural Casapiano de Lisboa, 28 set. – 17 nov. 2023.
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