A Água e o Livro | António Faria
Exposição Temporária | Sala Estúdio da Biblioteca da FCT
NOVA
Jan 31 a Fev 28
| 2019
SERENDIPITY - occurrence and development of
events by chance in a happy or beneficial way
ART- occurrence and development of events by chance and
choice in an emotional or intelligent way
BOOK- occurrence and development of events by chance and
choice in an emotional or intelligent way
WATER - movement and rhythm of life by chance in a happy or
beneficial way
LIGHT - movement and rhythm of life by chance in a happy or
beneficial way
Aconteceu nos depósitos da IST Press, sem tsunamis ou subidas
de marés.
Uma inundação e seis livros (Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo, da autoria de Jorge Calado) irremediavelmente molhados. Quando a água encontrou o livro e o livro encontrou o artista, o acidente tornou-se um feliz acaso. Tal como o cientista que descobre pelo uso da criatividade, o artista moldou as páginas molhadas, deu-lhes movimento, transformou o objeto. O livro toma novas proporções: de objeto para ser lido e um veículo de ideias a uma obra de Arte em todas as dimensões.
Fez-se luz! E a fotografia captou o objeto moldado desenhado
com luz. O artista viu para além do objeto e do acidente e criou a imagem, numa
relação dialética entre o modelo e o olhar do artista.
HAJA LUZ!
É uma história heterodoxa, onde a química vem entrelaçada
não só com as outras ciências, mas também com a literatura, a música, as artes
visuais, o cinema, a filosofia, etc. Aqui, o químico Humphry Davy aparece de
braço dado com o poeta Samuel T. Coleridge, Richard Wagner partilha a divisão
do trabalho com Adam Smith, e a pintura de René Magritte é invocada a propósito
de Louis Pasteur; Marilyn Monroe fica associada ao carbono, Jules Verne e
Jacques Offenbach celebram o oxigénio, e Sebastião Salgado fotografa a alquimia
sufocante do enxofre. E tudo começa com Joseph Haydn, e a sua oratória, A
Criação.
A química resulta de uma curiosidade básica: saber de que é
que são feitas as coisas. Nesta fascinante digressão histórica, desde a época
áurea dos Gregos até aos dias de hoje, Jorge Calado mostra como a química
moderna deriva do conhecimento do fogo da combustão e do raio do relâmpago,
isto é, da energia. Calor e eletricidade permitiram analisar a terra, a água e
o ar, até chegar ao conceito de elemento, representado pelo átomo. Prometeu e
Frankenstein são os génios tutelares da química!
A química é construída por pessoas: homens e mulheres, novas
e velhas, com gostos e desgostos.
A história da química faz-se com elas, e Jorge Calado dá
sentido à narrativa (não cronológica) enquadrando as invenções e descobertas
químicas nas disputas, guerras e conquistas sociais e políticas. Enquanto alguns
químicos foram endeusados, muitos foram perseguidos, outros morreram na
guilhotina. São centenas de personagens – químicos e não-químicos – aqui
reunidos no palco da história. Haja Luz! é um livro para toda a gente: um livro
sem princípio nem fim, concebido para ser aberto e lido a meio de qualquer
capítulo; um livro onde os conceitos são mais importantes do que as equações;
um livro que mostra como a química é útil, divertida, perigosa, bonita,
estimulante, frustrante, e indispensável.
Houve água! Uma história da inundação através da química
Sabe o que a água provoca nos livros?
Os livros são feitos de papel, um material constituído por
elementos fibrosos de origem vegetal, feito a partir de uma espécie de pasta,
secada sob a forma de folhas. Do ponto de vista químico, o papel é basicamente
constituído por ligações de hidrogénio. Hoje em dia, o material mais usado na produção
de celulose é a polpa de madeira de árvores. Para se transformar a madeira em
polpa, é necessário separar a lignina, a celulose e a hemicelulose que
constituem a madeira, através de processos mecânicos e químicos.
Os livros têm por isso a capacidade de absorver a água de
uma forma muito rápida. No caso dos livros antigos, anteriores ao século XIX,
por causa do tipo de papel utilizado na altura, feito a partir de materiais
como o algodão, linho ou cânhamo, estes chegavam a absorver cerca de 80% do seu
peso. Os livros posteriores a essa época, que usam papel com alto teor de
celulose, com maior resistência à imersão na água, a absorção fica-se pelos
60%, o que continua a ser imenso.
Os seis HAJA LUZ!, impressos em papel couché (tipo de papel
revestido por uma mistura de materiais ou um polímero para conferir certas
qualidades ao papel, incluindo peso, brilho superficial, suavidade ou redução
da absorção de tinta), devido a ser uma edição profusamente ilustrada, pesavam 14
quilos e passaram a pesar aproximadamente 22 quilos, depois de molhados. Para
que pudessem retornar ao seu estado anterior, o processo de secagem teria que
retirar deles 8 quilos de água!
Recuperar livros molhados não é um processo fácil, e a maior
dificuldade reside no empastelamento. Este ocorre quando o movimento capilar da
água no meio dos livros faz deslocar materiais solúveis que funcionam como
autênticos adesivos e provocam a aderência das folhas umas às outras. Ao
secarem assim, os livros molhados ficam tipo tijolo e um poiso gourmet de
cogumelos e fungos!
A primeira medida de recuperação dos livros molhados
consiste na sua congelação. E, por forma a evitar a formação de cristais
grandes de gelo, o congelamento deve ser rápido - os livros ou documentos molhados
devem ser submetidos a uma temperatura de menos 30 graus centígrados.
Posteriormente devem ser descongelados sem que haja formação de água – o que se
consegue com pouco calor, através de uma máquina de secagem a vácuo, que
permite uma secagem a baixíssimas temperaturas, por ausência de oxigénio e com
possibilidade de recuperação do dissolvente.
O que se pretende fazer é o chamado processo de
liofilização, que tende a danificar menos do que os outros métodos da
desidratação, que envolvem temperaturas mais altas. A ideia é as folhas
permanecerem duras e secas para depois serem tratadas normalmente, e
posteriormente reencadernadas.
JANEIRO 2019
Que agradável de ler!
ResponderEliminarIndependentemente da notícia, vale sobretudo pelo aspeto didático.
Felicitações.
Parabéns que bela ideia!
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