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Exposição | Biblioteca Specularis

 



Biblioteca Specularis é uma celebração da arte, da arquitetura e da singularidade das realizações humanas. Como todos nós, frágeis e resilientes ao mesmo tempo, esta escultura feita de vidro e pedra possibilita diversas leituras, tantas como os reflexos infinitos que cria ao entregar-se à luz intensa e reveladora que caracteriza a nossa exposição à cultura e ao conhecimento.

Começou por ser idealizada para uma exposição internacional na Biblioteca do Palácio Loredan, em Veneza, evocando a importância do conhecimento transmitido ao longo de séculos pelos livros e pela arte.

No entanto, foi na Biblioteca da FCT NOVA que veio finalmente lançar as âncoras e revelar-se na sua plenitude, entre a afirmação matérica e a dolcezza de significados.


MEMÓRIA DESCRITIVA de Biblioteca Specularis: 
 
A escultura Biblioteca Specularis (Fernando Quintas, 2015) foi inicialmente pensada para um local específico, que lhe foi destinado no contexto da exposição Within Light/Inside Glass (2015) na Biblioteca do Palazzo Loredan, em Veneza. A exposição enquadrou-se nas comemorações do Ano Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas na Luz 2015, uma iniciativa global da Assembleia Geral da ONU, sendo por isso óbvia a sua associação ao vidro e às suas inúmeras possibilidades plásticas. A mesma obra foi posteriormente apresentada em Lisboa, em exposição coletiva com o mesmo nome, realizada na Galeria da Fundação Millennium BCP, de 16 de setembro de 2015 a 9 de janeiro de 2016.

No seguimento do trabalho artístico que venho desenvolvendo há vários anos, foram utilizadas placas de vidro float (o vulgar vidro de janela), que foram fundidas sobre moldes de gesso e sílica para acentuarem a sua plasticidade e organicidade. Depois de cortadas e polidas, foram colocadas paralelamente sobre uma base espelhada, simulando livros numa biblioteca, as suas estantes e labirínticos corredores. As aberturas nas placas de vidro aludem à permeabilidade de Veneza enquanto “cidade lacustre”, sempre em permanente luta com as águas do mar e as demais forças da natureza, em particular os ventos e a força cíclica das marés. Os espelhos utilizados na base, numa das faces e em outros locais, remetem para o facto de os livros (e o conhecimento) serem sempre o resultado da influência de outros criadores, que, ao longo de milénios, deixaram testemunho da sua passagem por este delicado planeta. Complementando a leveza do conjunto, mas dando-lhe um sentido mais tectónico e próximo do edificado veneziano (e lisboeta), foram utilizados igualmente azulejos do século XVIII e pedra talhada, criando numa das faces da escultura uma “biblioteca” de pedra e azulejo. Toda a obra celebra a importância do conhecimento e da sua transmissão, e de como a cultura e a erudição nos podem (eventualmente) salvar da barbárie. Veneza e Lisboa, cidades que se diluem e refletem nas águas que as acariciam, ficam assim mais próximas, unidas pela arte, a cultura e o conhecimento. 

Como o Ser Humano, frágil e resiliente ao mesmo tempo, Biblioteca Specularis é uma celebração do conhecimento, da arte, da arquitetura e da singularidade das realizações humanas. Por oposição à soturnidade da Biblioteca Loredan, a escultura pretendeu-se luminosa e transparente, quase etérea, como um cenário teatral por onde se poderia deambular e navegar, dando asas à imaginação. No entanto, e apesar desta errância permanente, foi na Biblioteca da FCT NOVA, em 2021, que a escultura Biblioteca Specularis veio finalmente lançar as âncoras e revelar-se na sua plenitude, entre a afirmação matérica e a dolcezza de significados. Está agora pronta para ser completamente redescoberta a cada olhar de quem a observa, a visita e nela se funde.

Fernando Quintas, março de 2022

Biblioteca Specularis. Fernando Quintas, 2015.
Vidro, espelho, pedra e azulejo.

Essencial Curriculum Vitae

Fernando Quintas é artista plástico e Professor Auxiliar na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, onde leciona as Unidades Curriculares de Vidro, Mosaico e Pintura. Possui uma licenciatura e doutoramento em Pintura pela FBAUL, especializando-se em Vidro e Vitral.

Participou, em Portugal e no exterior, em diversos workshops sobre a arte do vidro, tendo apresentado os resultados das suas experiências de investigação em palestras e conferências em Portugal, França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Grécia e Tunísia. Fez parte do comité de organização de diversos workshops e de conferências, destacando “Glassac - Glass Science in Art and Conservation” (Lisboa, 2005), “Glassac 08” (Valencia, Espanha, 2008), “Portuguese Glass in an European Context - ICOM” (Lisboa, 2009) e do Corpus Vitrearum “Stained Glass After 1920: Technology and Conservation” (Lisboa, 2011). Fez igualmente parte, entre outras, da comissão científica da Glassac 11 (Bronnbach, Alemanha, 2011). É um dos membros fundadores da Unidade de Investigação VICARTE - Vidro e Cerâmica para as Artes (www.vicarte.org) e foi presidente da APV, Associação Portuguesa do Vidro, de 2006 a 2009. Concebeu e realizou a escultura-troféu do prémio APOM (Associação Portuguesa de Museologia) de 2017 a 2021.

Desde 1991 tem participado em várias exposições, em Portugal e no exterior, tendo recebido prémios e distinções em pintura e desenho. Continua a expor com regularidade e está presente em diversas coleções públicas e privadas.








Comentários

  1. Boa Tarde

    Muito importante dar voz e espaço aos nossos artistas. Muitos parabéns

    Alexandre Fonseca

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